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Os Anjos: modelos celestes e protetores constantes

9 aulas 04:40 Criados por Deus para sua glória, os Anjos trabalham por ela lutando pelos homens, com os homens, nos homens. Neste sentido, conhecer melhor a natureza angélica nos ajudará a contar sempre com estes padroeiros celestes que a cada instante nos cobrem com sua proteção. Assinar agora

Os Anjos: modelos celestes e protetores constantes

9 aulas 04:40

Criados por Deus para sua glória, os Anjos trabalham por ela lutando pelos homens, com os homens, nos homens. Neste sentido, conhecer melhor a natureza angélica nos ajudará a contar sempre com estes padroeiros celestes que a cada instante nos cobrem com sua proteção.

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Apresentação do curso

Ao proclamarmos nossa Fé, recitando o “Creio em Deus Pai”, declaramos crer ser Ele o Criador de “todas as coisas, visíveis e invisíveis”. Ora, o que são estas criaturas “invisíveis”? O que podemos saber sobre elas?

O mundo que saiu das mãos de Deus é, deveras, muito misterioso. Tirada do nada para espelhar as divinas perfeições de seu Autor, a Criação ainda nos é, sob muitos aspectos, completamente desconhecida. E um de seus aspectos mais fascinantes é... a natureza angélica!

Constituído antes dos tempos de nossa História, o mundo angélico é formado por um número incontável de seres perfeitíssimos, puramente espirituais, cumulados de dons inimagináveis por nós, numa feeria de esplendores que nenhuma expressão humana poderia descrever adequadamente. Sobre eles, infelizmente, a maioria dos homens não conhece quase nada, se é que conhece algo.

Ora, paradoxalmente, este mundo maravilhoso não é – como muitas vezes se acha – algo estanque, que não tem nada a ver conosco, e com o qual só nos poderemos relacionar após esta vida. Pelo contrário, criados por Deus para sua glória, os Anjos trabalham por ela lutando pelos homens, com os homens, nos homens. Neste sentido, conhecer melhor a natureza angélica – que é o que pretendemos com este Curso – nos ajudará a contar sempre com estes padroeiros celestes que a cada instante nos cobrem com sua proteção.

Bibliografia

AGOSTINHO DE HIPONA. De la doctrina cristiana: Obras de San Agustin. Madrid: BAC, 1957, v. XV.

BERNET, Anne. Enquête sur les Anges. Paris: Perrin, 1997.

BROSSE. Mois angélique: Notices sur les Saints Anges, apud ENFANTIN. Le Mois des Saints Anges. Paris: Librairie Catholique Emmanuel Vitte, 1905.

DANIELOU, Jean. Les anges et leur mission, d’après les Pères de l’Église. Paris: Desclée, 1952.

DEIDIER, Xavier. Les Anges et le Sacré-Coeur. Petite Bibliothèque des Missionnaires du S-C, 1893.

FERRETTI, Augusto. Os Santos Anjos da Guarda. Trad. R. Vellozo. Taubaté: S.C.J, 1945.

GARRIGOU-LAGRANGE, Réginald. La Providencia y la confianza en Dios. Trad. Jorge de Riezu. 2 ed. Buenos Aires: Desclée de Brouwer, 1945.

HUBER, Georges. O meu anjo caminhará à tua frente. 2 ed. Lisboa: Rei dos Livros, 1995.

KLEE, Vincent. Les plus beaux textes sur les saints anges. Paris: Nouvelles Editions Latines, 1984.

LAVAL, Th. Le Monde Invisible ou Traité dogmatique et ascétique des Anges. Bruxelles: Librairie Albert Dewit, 1909.

PADRES APOSTÓLICOS, Coleção Patrística. Trad. Ivo Storniolo. São Paulo: Paulus, 1995.

REGAMEY, Pie-Raymond. Los Ángeles en el Cielo y entre nosotros. Andorra: Casal I Vall, 1960.

SAUVÉ S.-S., Charles. L’Ange et l’Homme intimes. Paris: Vic et Amat, 1901.

TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. 4 ed. Madrid: BAC, 2001.

TOMASELLI, D. G. Os Anjos. Trad. Lydia Christina. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 1955.

VERNIER, Jean-Marie. Les Anges chez Saint Thomas d’Aquin. Paris: Nouvelles Editions Latines, 1986.

VONIER. Les Anges. Trad. Dom Meeus. Paris: Spes, 1938.

Sobre o professor

Pe. Louis Marie Joseph Anicet Goyard, EP

     Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense de Roma, atualmente ocupa o cargo de Secretário Geral da Sociedade de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli.

     Além de francês, sua língua natal, fala português, inglês, espanhol e italiano. Tendo, desde jovem, muita facilidade para a música, estudou piano, órgão, violão e flauta, especializando-se depois em canto gregoriano e teoria musical. Foi professor de diversas disciplinas, e sempre se destacou pela clareza e lógica ao expor os mais difíceis temas, tornando-os simples e atraentes.

Conteúdo

Apresentação do curso

Bibliografia

Sobre o professor

Aulas do curso

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Aulas do curso

1. Objetivo do nosso estudo

00:33
     Ao ouvir falar em Anjos, nossa época se encontrará frequentemente dividida entre um ceticismo obstinado e um misticismo exacerbado, sendo ambas as posições muito distantes da realidade.      Com efeito, a modernidade e a ciência foram dominando de tal forma o espírito humano que ele dificilmente consegue crer em algo que extrapole o âmbito da ciência experimental. Por outro lado, o materialismo crescente abre um vácuo cada vez maior na alma, que exige ser preenchido por alguma forma de espiritualidade, o que tem levado à proliferação de misticismos dúbios, por onde muitas pessoas acabam se voltando para diversas formas de ocultismo, velado ou declarado.      Ora, existe de fato um universo espiritual, criado por Deus, que ao mesmo tempo preenche a necessidade que o homem tem de transcendência, e se coaduna harmonicamente com a razão. Embora só tenhamos conhecimento dele pela fé, o mundo dos Anjos entrou muitas vezes em contato com a humanidade, como o relatam as Sagradas Escrituras. Embora nosso conhecimento não consiga abarcar e dominar este mundo, muito superior ao nosso, é possível – em espírito de fé e de humildade – lançar um olhar para isto que existe acima de nós.  

2. Anjos: verdade de Fé

00:35
     As Sagradas Escrituras contêm tantas referências aos Anjos que acreditar na sua existência é uma exigência de nossa fé. Sem dúvida, para cada homem, vê-los ou ouvi-los é algo raro, como a própria Bíblia o atesta.      Entretanto, assim como acreditamos em mil coisas que nunca pudemos ver (acontecimentos passados, existência de estrelas distantes, propriedades de seres ínfimos, como os átomos, etc...), em razão de fontes fidedignas, com maior razão devemos dar crédito naquilo que é o fundamento do conhecimento espiritual das coisas. Assim, serão sempre as Escrituras a base principal de nosso conhecimento sobre os Anjos. A isto se acrescenta a valiosíssima herança doutrinária legada pelos Santos Padres e muitos teólogos que, depois deles, se dedicaram ao estudo da angeologia.      Com efeito, embora as Escrituras não apresentem ensinamentos claros sobre a natureza angélica em si, analisando-as com cuidado podemos encontrar nelas elementos muito úteis para ajudar-nos a conhecer melhor suas propriedades. Com base nisto, a Doutrina Católica definiu, ao longo dos séculos, uma série de verdades sobre os Anjos, com graus diferentes de certeza.

3. Os Anjos e São Tomás de Aquino

00:29
     Nesta aula, apresentaremos brevemente as principais fontes utilizadas para nosso estudo, e as razões da nossa escolha, pois teremos São Tomás de Aquino como guia fundamental desta nossa jornada teológica.      Ora, sendo a Teologia algo vivo, sujeito a desenvolvimentos, pode surgir a pergunta de por que recorrer a alguém de uma época tão remota quanto o séc. XIII. E a resposta é simples: os autores mais recentes concordam em afirmar que ninguém logrou construir um sistema de pensamento estruturado e coordenado superior ao de São Tomás de Aquino. Partindo da base da Revelação e de uma amplíssima gama de ensinamentos da Patrística, São Tomás manuseia os dados existentes graças a princípios filosóficos básicos, passando pela metafísica, a lógica, a psicologia, a antropologia... até chegar a altas conclusões teológicas. Não espanta, pois, que a produção tomista sobre os Anjos tenha sido muito abundante: além de dedicar três partes na sua obra magna “Summa Teológica”, ele trata sobre o tema em várias outras obras (o Compêndio de Teologia, As substâncias separadas, as Questões disputadas sobre a Verdade, entre outras).      Para completar nosso curso, recorreremos igualmente a famosos comentaristas de São Tomás, teólogos, e – é claro! – aos Padres da Igreja, entre os quais ocupam lugar privilegiado Santo Agostinho e o Pseudo-Dionísio.  

4. A natureza angélica (Aula 4 - Parte I)

00:27
     O primeiro conceito, o axioma basilar, de toda a angeologia consiste na natureza puramente espiritual dos Anjos. Isto é atestado pelas Escrituras, que nos dão inúmeros testemunhos de sua espiritualidade e imaterialidade.      Ora, esta característica vai nos colocar alguns problemas, para nós que tudo concebemos em função da matéria, e que pensamos as coisas existentes em função de nossos sentidos. Estes elementos precisam ser estudados e resolvidos para podermos prosseguir no estudo, pois o pensamento humano funciona à maneira de elos de uma corrente: um precisa estar preso no outro.      Em primeiro lugar, põe-se o problema da criação dos Anjos. Com efeito, afirmamos crer que Deus é “Criador de todas as coisas... invisíveis”. Entretanto, no relato do Gênesis, onde se encontra descritos os passos da Criação, não consta a criação dos Anjos... Santo Agostinho é quem resolve magistralmente este aparente problema. Com isso, compreendemos ser provável que Deus tenha criado, num mesmo ato, os seres materiais fundamentais (os planetas, a terra e o mar) e os seres espirituais (Anjos).  

5. A natureza angélica (Aula 4 - Parte II)

00:31
    Continuando a aula anterior, precisamos agora resolver outro problema, mais complicado. Com efeito, a teologia primitiva, que se baseava sobretudo nos conceitos platônicos das arquetipias, considerava ser a “pura e perfeita espiritualidade” uma característica distintiva – e portanto também exclusiva – da Divindade; logo, afirmar a pura espiritualidade dos Anjos seria equipará-los a Deus, isto é, defender certa forma de politeísmo, algo inaceitável para os primeiros cristãos, que acabavam de emancipar-se do paganismo e das heresias. Isto fez que alguns procurassem defender a existência de “certa materialidade” nos Anjos, o que São Tomás julgará filosoficamente incoerente, e inclusive incompatível com o caráter espiritual dos Anjos, explicitamente defendido pelas Escrituras Sagradas. Era preciso, pois, resolver o impasse demonstrando que a absoluta espiritualidade dos Anjos em nada diminuía sua contingência de criatura frente ao Criador.      Esta luta, que oporá durante anos São Tomás aos seus predecessores, quase lhe valeu ser excomungado! Entretanto, ele conseguiu demonstrar suas teses de forma tão brilhante e sólida, que os Papas canonizarão seus escritos e incorporarão definitivamente suas explicitações ao tesouro da doutrina católica. É isto o que lhe valeu, aliás, o título de “Doutor Angélico”.  

6. A natureza angélica (Aula 4 - Parte III)

00:30
     Nesta terceira e última aula dedicada à essência da natureza angélica se apresenta a distinção entre “essência” e “existência”, a pedra de ângulo da explicação tomista da diferenciação entre Deus e os Anjos, embora todos sejam verdadeiramente “puros espíritos”. Trata-se também de outros elementos sobre a natureza angélica, como seu número.      Com efeito, alguns autores pretendem saber seu número, e inclusive todos os seus nomes... Entretanto, o Profeta Daniel nos diz ter visto, em sonho, que milhares e milhares de Anjos serviam a Deus, enquanto dezenas de milhares O assistiam (Dn 7, 10)... São Tomás, seguindo a opinião dos autores, afirma que seu número é tão imenso que supera completamente nosso entendimento e nossa capacidade de contar.      Um último tópico coberto por esta aula diz respeito à imortalidade dos Anjos, que é uma consequência de sua absoluta imaterialidade, já que a corrupção é uma debilidade da matéria, inexistente neles. Sua existência, entretanto, é constantemente sustentada pelo poder de Deus, assim como qualquer criatura.  

7. O conhecimento angélico

00:31
     O homem, ao nascer, possui pouquíssimos elementos em sua mente, e é pela experiência que ele adquire e enriquece seu conhecimento. Por isso, ele precisa ser ensinado. Este ensinamento lhe entra, necessariamente, pelos sentidos, pois – segundo o axioma consagrado – “nada há no intelecto que antes não tenha passado pelos sentidos”.      Ora, embora constituído por uma natureza muito superior à nossa, o Anjo não tem corpo e, portanto, carece dos sentidos tais como nós os concebemos. Como pode ele, então, conhecer? Segundo os autores, os Anjos foram criados com a “ciência infusa”, isto é, com o conhecimento de todas as coisas criadas. Limitando-se às “coisas criadas”, este conhecimento não abarca, portanto, o futuro, mas sim a essência de todas as coisas criadas por Deus. Se pudéssemos comparar a mente do recém-nascido à de uma tábua rasa, o espírito de um Anjo recém-criado poderia ser comparado a um espelho que reflete a natureza inteira.      Este conhecimento infuso, entretanto, não é idêntico em todos os Anjos, pois se encontra mais perfeitamente nos Anjos superiores, cuja inteligência é mais potente, clara e veloz. Ademais, eles tiram também conclusões daquilo que conhecem, intuindo assim aquilo que não lhe foi revelado, com muito mais perfeição do que nós.

8. A vontade angélica

00:25
     Ter vontade e livre-arbítrio é uma exigência da natureza para toda substância de natureza intelectual, como os Anjos e os homens. Contudo, nem por isso podemos achar que a vontade dos Anjos seja igual à nossa. Com efeito, quanto mais perfeito é o conhecimento que se tem de algo, tanto mais perfeita é a atração ou a rejeição que se tem dele.      Ora, já o vimos, o conhecimento que os Anjos têm das coisas é excelente! Logo, a vontade deles também adere ou rejeita as coisas com proporcional veemência. Isto, entretanto, não quer dizer que eles nunca foram capazes de querer o mal; com efeito, durante o seu período de prova, a limitação de seu conhecimento acerca das realidades sobrenaturais permitia que eles, não sendo fiéis à graça, julgassem ser bom algo que fosse ruim; seu livre-arbítrio, então, poderia inclinar-se para algo objetivamente mal, embora percebido como subjetivamente bom.      Ora, à diferença dos homens, a perfeição da vontade do Anjo, uma vez realizada a escolha, é incapaz de voltar atrás. Por isso os demônios – aqueles anjos que se rebelaram contra Deus – são incapazes de emenda e de perdão... como acontece, tantas e tantas vezes, com os homens.  

9. A comunicação angélica

00:35
     Sendo puramente espirituais e, portanto, mais parecidos com Deus do que nós, os Anjos possuem uma natureza que, em tudo, é muito mais perfeita do que a natureza humana.      Ora, para nós que somos materiais, toda comunicação se faz por meio dos sentidos: precisamos nos ver, nos ouvir ou ao menos nos sentir, para podermos nos comunicar entre nós. Entretanto, os Anjos não têm olhos, nem boca, nem ouvido... Como eles então se comunicam?      Mais uma vez, a metafísica de São Tomás nos ajudará a compreender como se dá a comunicação entre os puros espíritos, uma comunicação tão mais perfeita quanto menos afetada pela resistência da matéria. Eles podem estar a anos-luz de distância uns dos outros e, entretanto, comunicarem-se com absoluta perfeição, sem erro nem mal-entendidos...  

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