Inspirada pela Divina Bondade que emana do Sagrado Coração de Jesus

As revelações privadas sempre fizeram parte da História da Igreja. O dever de fé do cristão para com a revelação pública, isto é, as páginas das Sagradas Escrituras, é obrigatório; para com as revelações privadas, não. Porém, é de mau tom desprezar confidências que muitos dos grandes santos sempre veneraram, entre elas as aparições de Nossa Senhora a tantos povos.

Por mais que o século XX tenha sido a era da dissolução dos costumes e do ataque à fé, de tantas formas e jeitos, Deus não o abandonou sem revelações. Revelações estas que abalaram fortemente a História. Fátima é uma delas, senão a maior. Porém, outras menores também merecem atenção. 

Um notável caso de revelação privada que tem merecido a atenção é o de Santa Faustina Kowalska, a "secretária" da Divina Misericórdia". Quais foram as mensagens que essa freira polonesa legou ao mundo?

Vida e existência humilde

Helena Kowalska nasceu no dia 25 de agosto de 1905, na pequena aldeia polonesa de Glogowiec. Foi a terceira de dez filhos do casal Mariana e Stanislaw Kowalska, camponeses humildes e bons cristãos. Eles transmitiram à filha os princípios da fé católica, com a qual ela se encantou desde menina.

Ainda muito jovem, Helena manifestou o desejo de se tornar freira, o que se chocou com a vontade do pai, que preferia que ela realizasse um bom casamento. Triunfou, porém, a vontade do Esposo Divino: em 10 de agosto de 1925, Helena entrou para o convento das Irmãs da Bem-Aventurada Virgem Maria da Misericórdia, em Varsóvia, onde recebeu o nome de Irmã Maria Faustina.

Durante a sua vida religiosa, Santa Faustina teve experiências místicas que a aproximaram da espiritualidade e lhe deram uma visão muito clara da Divina Misericórdia. Em seus momentos de êxtase espiritual, tinha a firme convicção de que Jesus Cristo estava se comunicando com ela e revelando a importância da misericórdia para a humanidade.

Uma das mensagens principais obtidas durante as visões dizia respeito à divulgação da Divina Misericórdia como uma fonte de graça e perdão oferecida por Deus a todos os seres humanos. Ela  recebeu instruções para promover a devoção à Divina Misericórdia, que incluía a veneração da imagem de Jesus Misericordioso e a propagação do Terço da Misericórdia.

Assim como Santa Margarida Maria Alacoque, a santa que originou a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, recebeu grande apoio de seu confessor, São Cláudio de la Colombière, Santa Faustina também precisaria se encontrar com aquele que seria seu apoiador. O capelão, Padre Miguel Sopoćko, foi nomeado para ser confessor da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia, na cidade de Wilno, na Lituânia, onde se encontrava a freira. Ele foi a primeira pessoa que acreditou em Santa Faustina.

A Providência divina conduz Santa Faustina

Santa Faustina ainda tinha certo receio de contar as revelações que recebia de Jesus, quando começou a se confessar com o Pe. Miguel, o qual ela já conhecia de sua visões. Dele, ela escreve:

“Veio a semana da confissão e, para a minha alegria, vi aquele sacerdote que já conhecia antes de vir a Wilno. Conhecia-o da visão. Então, ouvi na alma estas palavras: Eis o Meu servo fiel, ele te ajudará a cumprir a Minha vontade aqui na Terra.  Então não me dei a conhecer logo a ele, como o Senhor desejava. E por algum tempo, lutei com a graça. Em cada confissão, a graça de Deus invadia-me de maneira estranha, todavia não desvendava minha alma diante dele, e até pretendia não me confessar com esse sacerdote. Depois desta decisão, uma terrível ansiedade se apoderou de minha alma. Deus me censurava fortemente. Quando abri toda a minha alma a esse sacerdote, Jesus derramou na minha alma todo mar de graças. Agora compreendo o que é a fidelidade a uma graça particular e como ela atrai toda uma série de outras” (D. 1567).

Portanto, é só quando decide se abrir que o fluxo de graças se estabelece entre as duas almas. O Pe. Miguel, tendo experiência como confessor, questionou-se por algum tempo sobre a sanidade da freira. Ministro sério que era, ele não podia descartar a possibilidade de alguma patologia. Por esse motivo, pediu autorização à madre superiora para que a Irmã Faustina fosse devidamente analisada, física e psicologicamente. A comprovação clínica de que ela não possuía nenhum desvio atestou ainda mais a veracidade das informações que a freira lhe transmitia.

Nasce o diário da Divina Misericórdia

Entretanto, como as visões de Santa Faustina eram cheias de detalhes que precisavam ser analisados, o Pe. Miguel começou a sofrer algumas críticas. Diziam, por exemplo, que o tempo de confissão de Faustina se estendia muito, e que as outras freiras não se confessavam por causa isso. Preocupado, o padre pediu à santa que escrevesse as suas visões em um pequeno diário, para que, toda noite, ele as lesse com calma e desse sua chancela de aprovação, uma vez que era teólogo e tinha autoridade para isso. Foi assim que surgiu o "Diário da Divina Misericórdia", hoje publicado em mais de 10 línguas, conhecido no mundo todo.

Vejamos alguns trechos deste ilustre escrito:

“Apóstola da Minha Misericórdia, proclama ao mundo toda esta Minha insondável misericórdia. Não desanimes com as dificuldades que encontrarás na divulgação da Minha misericórdia. Essas dificuldades, que tão dolorosamente te atingem, são necessárias para a tua santificação e para comprovar que essa obra é Minha. Minha filha, sê diligente em anotar cada sentença que te digo sobre a Minha misericórdia, porque se destinam a um grande número de almas, que delas tirarão proveito” (D. 1142).

“Hoje num diálogo mais prolongado o Senhor me disse: Como desejo a salvação das almas! Minha caríssima secretária, escreve que desejo derramar a Minha Vida Divina mas almas dos homens e santificá-los, desde que queiram aceitar a Minha graça” (D. 1784). As Minhas entranhas estão repletas de misericórdia, que está derramada sobre tudo o que criei. O Meu prazer é agir na alma humana, enchê-la da Minha misericórdia e justificá-la. O Meu Reino está sobre a Terra – a Minha vida, na alma humana. Escreve, Minha secretária, que o guia das almas sou diretamente Eu – e, indiretamente, as guio pelo sacerdote e conduzo cada uma à santidade por um caminho somente por mim conhecido”.

Mesmo sendo praticamente analfabeta afinal, tinha cursado apenas as três primeiras séries primárias, que conhecemos hoje como ensino fundamental, a freira não recuou e pôs em palavras, com grande esforço, o sinal de que a Misericórdia de Cristo é tão grande e insondável como a origem dos tempos. Infelizmente, Santa Faustina sofreu a incompreensão das suas irmãs de religião, o que lhe causou grandes sofrimentos, porém, ela encontrava consolo na Divina Misericórdia.

Seguindo o exemplo de Santa Faustina, saibamos recorrer à Divina Misericórdia. O próprio Cristo nos conclama:

“Os maiores pecadores atingiriam uma grande santidade, desde que tivessem confiança na Minha misericórdia” (D. 1782).

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