"Nenhum profeta é bem aceito na sua pátria” (Lc 4, 24), afirmou Jesus. Poderíamos acrescentar que raras vezes os profetas são reconhecidos pelos homens de sua época. Frequentemente perseguidos pelos seus contemporâneos até o derramamento de sangue (cf. Lc 11, 49-51), esses enviados de Deus são ainda esquecidos com rapidez, e por isso seus escritos dificilmente chegam íntegros à posteridade. Aliás, antes de morrer, Santo Estevão exclamou: “A qual dos profetas não perseguiram os vossos pais?” (At 7, 52).

Entretanto, por mais surpreendentes que sejam os caminhos utilizados, as profecias sempre acabam se cumprindo: veio o dilúvio, o povo eleito foi libertado, a Virgem deu à luz um Filho, a humanidade foi redimida, o Espírito desceu sobre os escolhidos… Enganar-se-ia, contudo, quem julgasse que a época das profecias se encerrou com o início do Novo Testamento. Encontramos uma prova disto na pessoa de São Luís Maria Grignion de Montfort, figura muito tempo relegada ao esquecimento, e cuja verdadeira estatura vem surgindo com força cada vez maior desde o final do século XX.

Este grande mestre da vida espiritual, canonizado por Pio XII em 1947, fez lindíssimas previsões sobre uma fase histórica toda dedicada a Maria, por meio da qual se instauraria o verdadeiro reinado de Cristo. Mas seus contemporâneos não lhe deram crédito. Sua época (séculos XVII-XVIII) fora conturbada: em mensagem a Luís XIV, rei da França, pediu-lhe Jesus a consagração desse católico reino ao seu Sagrado Coração, prometendo-lhe especial proteção caso seu pedido fosse atendido; em caso contrário, contudo, graves desastres desabariam sobre a nação. Infelizmente, o rei terreno não deu ouvidos ao Rei do universo e cem anos depois estourou a revolução que derrubou a monarquia, não só na França, mas, progressivamente, na Europa inteira.

Com Noé, aliás, ocorrera algo semelhante: cem anos depois da divina advertência, começaram a cair as primeiras gotas do dilúvio. É como se houvesse algo à maneira de um prazo, após o qual a paciência de Deus finalmente se esgota…

Na atualidade, o crescente número de devotos de São Luís Grignion parece ser muito significativo da iminência de grandes acontecimentos. Com efeito, como sói acontecer com as profecias, os sinais se multiplicam na medida da proximidade de sua realização.

Este sintoma talvez não seja alheio ao fato de estarmos no centésimo aniversário das aparições da Virgem Santíssima na Cova da Iria. Haverá alguma íntima relação entre a devoção pregada por São Luís Grignion e os acontecimentos prenunciados em Fátima, entre estes o triunfo do Imaculado Coração de Maria? Tudo leva a crer que sim, pois em ambos os casos se prognostica o estabelecimento do Reino de Nossa Senhora sobre a terra e os corações, algo que constitui por certo uma constante nas profecias, entre as quais devemos contar o Pai-Nosso: com efeito, uma oração ditada pelo próprio Deus só pode ser uma promessa de realização.

Será então inteiramente descabida a esperança de, até o fim do centenário de Fátima, se terem cumprido todas as revelações feitas por Nossa Senhora em suas aparições, tanto o que se conhece a respeito, quanto aquilo que ainda ignoramos?