Açoitado por agitadas ondas, sob raios e trovões de aterradora tempestade, lá vai o barquinho quase naufragando e prestes a abandonar a luta. Até que, como outrora os apóstolos no mar da Galileia, o exausto marujo no seu interior se lembra de que a salvação está ali mesmo, junto dele…

Não são assim também as tormentas que às vezes enfrentamos? Entretanto… a solução está sempre muito perto de nós.

Após sua ascensão ao Céu, Nosso Senhor não nos abandonou à nossa sorte. Continua à espera de que a Ele recorramos, pronto para fazer cessar qualquer tempestade.

Aqui tocamos no cerne da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, cuja festa ocorre neste mês de junho.

A mensagem que Ele veio nos transmitir, nas revelações a Santa Margarida Maria Alacoque, fala de seu ardente amor por nós e do consequente desejo de nos socorrer.

Se soubéssemos quão “onipotente” é essa devoção!

Se muitos cristãos a abraçassem, não apenas resolveriam seus problemas pessoais, mas ajudariam a reverter a grave crise mundial. É o que dizem os Papas dos últimos 150 anos.

Ao longo do último século, assistiu-se à abolição dos pontos de referência, dos valores mais sagrados, das próprias bases da civilização, até chegar à trágica situação de hoje. Por quê?

Responde Leão XIII:

Quando a religião é descartada, fatalmente acontece que se desmoronam os mais sólidos fundamentos do bem público. Para fazer seus inimigos experimentarem o castigo por eles provocado, Deus os deixa à mercê de suas más inclinações, de modo que, abandonando-se às suas paixões, se entreguem a um excessivo desregramento. Daí essa abundância de males que há tempo avançam sobre o mundo.

Leão XIII escreveu essas palavras na Encíclica Annum Sacrum, preparando a cerimônia de consagração da humanidade ao Sagrado Coração de Jesus, que se realizou em junho de 1899. Ele a terminava com esta proclamação:

Quando a Igreja, ainda próxima de suas origens, estava oprimida sob o jugo dos césares, um jovem imperador viu no céu uma cruz que anunciava e preparava uma vitória próxima e magnífica. Temos hoje outro lábaro bendito e divino que se oferece a nossos olhos: o Sacratíssimo Coração de Jesus, sobre o qual se levanta a cruz e que brilha com um deslumbrante esplendor, entre as chamas do amor. N’Ele devemos pôr todas as nossas esperanças, a Ele devemos suplicar e d’Ele devemos esperar nossa salvação.

Assim, ainda que nosso barquinho encontre as piores borrascas, ergamos nossos olhos para esse pendão salvador, o Sagrado Coração de Jesus.

Para chegarmos mais rápida e diretamente até Ele, peçamos o auxílio d’Aquela que é Mãe d’Ele e nossa.

Afinal, em se tratando de coração, “o que mais se assemelha ao Coração de Cristo é, sem dúvida, o de Maria, sua Mãe Imaculada, e precisamente por isso a liturgia os indica juntos à nossa veneração” – diz Bento XVI (Angelus, 5/6/2005).