Descemos, nestes últimos tempos, a um terrível e profundo abismo de pobreza e miséria. O mundo se encontra numa desproporção clamorosa entre os ricos e os que nada possuem.

O panorama que se abre diante de nossos olhos nos dias de hoje é simplesmente calamitoso, no tocante à indigência espalhada por todo o orbe.

E não focalizamos este assunto sob o mero prisma financeiro pois, se fôssemos realizar uma estatística bem exata da quantidade de virtude e de beleza que abandona a terra a cada segundo, ficaríamos estarrecidos ao constatar sua magnitude.

Sim! Gestos, atitudes, linguagem, trajes, costumes, etc., progressivamente se enfeiam a cada passo.

Trata-se, evidentemente, de uma consequência inevitável da crise moral e do hedonismo desenfreado nos quais vem há séculos submergindo a sociedade, pois o pecado é a negação da verdade, do bem e do belo.

Daí ser necessário, mais do que nunca, fazer não só retornar à terra os esplendores passados, mas encontrar novas formas de pulchrum para satisfazer a “fome” dos que não têm quase nada para “comer”. E são numerosos…

Eis, pois, chegado o momento de promover uma das mais generosas missões que se poderiam realizar junto à nossa humanidade depauperada, esquálida e quase agonizante à míngua do belo.

E esta não é uma tarefa só da Igreja, mas também do Estado, conforme afirmava o Papa Leão XIII: “Muitas outras coisas deve igualmente o Estado proteger ao operário, e em primeiro lugar os bens da alma” (Rerum Novarum, n. 23).

Quanto à Santa Igreja, claro está ser sua principal missão a “de santificar as almas e de as fazer participar dos bens da ordem sobrenatural” (Mater et Magistra, n. 3).

É justamente essa a rejeição do homem hodierno, abandonando, em troca do prazer fugaz e mentiroso do pecado, o Cristianismo que “o convida a elevar o pensamento, das condições mutáveis da vida terrena até as alturas da vida eterna, onde encontrará sem limites a plenitude da felicidade e da paz” (Id. n. 2).

É incontestável a necessidade urgente de uma intensa evangelização através do pulchrum, maior do que a de atender às carências materiais, pois a sede, a fome e a indigência do belo são ainda mais graves.

Já no séc. VIII afirmava Beda o Venerável: “A caridade deve ser praticada não com a carne do irmão, que um dia haverá de morrer, mas muito mais com a alma, que deve sempre viver” (Migne, PL 95 Col. 1216/7).

E mais tarde precisaria São Tomás de Aquino:

Algumas coisas corporais, voltadas para o sustento da vida, são mais necessárias que certas esmolas espirituais voltadas para o bem-estar (“bene esse”); mas aquelas que são voltadas para o bem-estar espiritual são mais necessárias que as voltadas para o bem corporal (Scriptum super Sententiis, lib. 4, d. 15, q. 2, a. 3).

E ainda acrescentaria o Doutor Angélico:

Busca-se mais a utilidade do próximo por aquelas coisas pertencentes à salvação espiritual da alma do que pelas pertencentes ao atendimento de uma necessidade corporal. (…) As esmolas espirituais são mais importantes que as corporais (Suma Teológica, IIII, q. 188, a. 4).

A esmola do belo é a grande necessidade dos presentes dias.