Quando Jesus decidiu escolher alguns dentre seus discípulos para instituí-los como Apóstolos, não desceu Ele a um vale, nem entrou numa floresta, mas “subiu ao monte” (Mc 3, 13) com eles. Da mesma forma, quando quis proferir o ensinamento por antonomásia, o Sermão das Bem-aventuranças, surpreende-nos por não ter escolhido uma sinagoga, nem uma praça pública, nem sequer um campo próximo da cidade… Frustrando toda ideia de comodidade ou de proximidade das gentes, o Mestre não vai atrás do povo, mas o arrasta atrás de Si para o cume da montanha (cf. Mt 5, 1). Na multiplicação dos pães, Cristo realizou o milagre só para quem O acompanhou até o alto (cf. Jo 6, 3-14), e não para quem circulava comodamente nas cidades.

Várias conversas nas quais Jesus formava seus discípulos também se deram na solidão dos píncaros; por exemplo, quando lhes falou sobre sua segunda vinda, “cercado de glória e de majestade” (Mt 24, 30). Quando queria rezar a sós, quase sempre preferia o cimo de algum monte. E se não bastasse isso, os principais episódios da vida do Redentor, como a Transfiguração, a agonia no Horto e a Crucifixão, se realizaram em pontos geográficos elevados; e foi no alto de uma montanha que os Apóstolos reencontraram Jesus depois da Ressurreição (cf. Mt 28, 16-17).

Fatos históricos como estes não se dão por acaso, menos ainda quando se trata do Homem-Deus. Com efeito, as alturas oferecem incomparável beleza e encanto, mas, sobretudo, se revestem de um simbolismo profundo. “Tanto os céus distam da terra quanto sua misericórdia é grande para os que O temem” (Sl 103, 11): esta frase é mais um exemplo de como a natureza é feita de imagens destinadas a ajudar nosso relacionamento com Deus e com as realidades sobrenaturais.

A montanha representa o que no mundo existe de mais elevado. Portanto, local privilegiado para o homem, pondo-se, por assim dizer, na ponta dos pés, entrar em contato com Deus. Ilustra esta ideia o fato de o Templo – e a própria Jerusalém, imagem da Igreja e do Céu –, ter sido construído sobre um monte.

Ora, se uma elevação geográfica é tão cheia de significado, o que dizer de alguém que, como alpinista de si mesmo, galgou espiritualmente as alturas de seu próprio chamado, venceu – ajudado pela graça – os abismos dos seus defeitos e chegou a um grau ímpar de santidade? Homens assim são seres mais angélicos que humanos, e realizam em si a união entre o Céu e a Terra, numa função realmente sacerdotal, seja ou não sacramental. São estes varões que determinam os rumos da História, pois encarnam os supremos ideais, e dos altos Céus Deus Se inclina, visita-os e estabelece neles a sua morada (cf. Jo 14, 23).

Quando os homens-ápice trouxerem, deste modo, o Céu à Terra, o Reino de Deus estará entre nós; terá sido atendido o pedido feito há dois mil anos no Pai-Nosso: “venha a nós o vosso Reino”.