As leis do espírito são muitas vezes contrárias às da matéria.

Assim, à medida que o homem come, seu apetite diminui; após uma boa refeição, ele se sente satisfeito.

Na ordem sobrenatural, acontece exatamente o oposto: quanto mais a alma se alimenta dos bens espirituais, mais aumenta sua apetência, a qual só será saciada quando atingir o infinito, ou seja, o próprio Deus, para O qual foi criada.

No que diz respeito à propriedade ou ao uso de qualquer bem terreno, pode-se observar um caso semelhante.

Quanto mais bens possuir um indivíduo, um grupo ou uma nação, menos restará para os demais. E o alimento consumido por um, a ninguém mais aproveita.

No mundo do espírito, entretanto, dá-se o inverso: pela comunhão dos santos, quanto mais uma alma acumula graças, maior é a participação e o benefício de todas as outras.

Também no campo das funções e das hierarquias nesta vida, os julgamentos humanos e os divinos podem não ser os mesmos.

Por exemplo, um simples irmão leigo, iletrado, faxineiro do convento, comparado a um monge do mesmo mosteiro, teólogo eminente. Nesta terra, este último gozará de merecida reputação, por sua vasta cultura, enquanto o irmão leigo será, talvez, tratado de uma forma comum. Passando para a vida eterna, porém, pode muito bem acontecer de o teólogo, com surpresa, ver no Céu o irmão faxineiro ocupando um trono muito superior ao seu…

Algo de análogo pode ocorrer com os povos e as nações nesta terra, pois não são destinados a permanecerem, enquanto tais, após o Juízo Final.

Não é raro, na História, depararmo-nos com um povo relegado a uma posição apagada na ordem internacional que, movido por fatores diversos, cresce, expande-se e, numa curva inesperada dos acontecimentos, eleva-se ao pódio da glória, deixando pasmos incontáveis historiadores incapazes de compreender tal sucesso.

Assim, por exemplo, era impensável que dos bárbaros invasores do Império Romano surgisse a Europa.

Haverá hoje alguma nação sendo preparada por Deus para algum novo papel na História?

Face a essa pergunta, é quase impossível não voltar os olhos para a África, tantas vezes chamada por João Paulo II de “o continente da esperança”. Tanto mais que Deus concedeu com largueza à raça negra dotes prenunciadores de um promissor porvir: charme, perspicácia, despretensão e um notável senso do maravilhoso.

Quando se revelarão ao mundo, em todo o seu esplendor, as qualidades postas pelo Criador na alma de nossos irmãos africanos? Só a Providência o sabe.

Entretanto, os Arautos do Evangelho têm tido oportunidade de comprovar, no dia a dia, quanto a juventude de Moçambique — como a de outros países por onde vão estendendo sua ação evangelizadora — é sedenta de fé, de verdade, de bem e de beleza.