O Concílio Vaticano II soube ver de frente a mudança dos tempos e a necessidade de a Igreja enfrentar os desafios surgidos com a explosão demográfica em muitas nações, em contraposição ao controle de natalidade de outras, o progresso científico e tecnológico, o avanço das comunicações e muitas outras novidades impensáveis algumas décadas atrás, que acabaram por tornar o mundo de hoje muito diferente de qualquer outra era histórica.

No seu Decreto Apostolicam Actuositatem, o Concílio alertou para os “novos problemas” que tais mudanças acarretavam, com evidentes reflexos na missão da Igreja. Tanto mais quanto “a autonomia de muitos setores da vida humana, como é justo, aumentou, por vezes com um certo afastamento da ordem ética e religiosa e com grave perigo para a vida cristã”.

E alertava: “No nosso tempo surgem novos problemas e se difundem gravíssimos erros que ameaçam subverter a religião, a ordem moral e a própria sociedade humana”.

Passados 40 anos desde então, a sociedade está progressivamente se esvaziando de Deus e de Cristo, rolando por um trágico declive feito de relativismo moral e corrupção, radicalizados por um desenfreado hedonismo.

Na Sexta-Feira Santa de 2005, ressoou pelo mundo esta advertência do na época cardeal e hoje Papa Bento XVI:

A Cristandade, afastada da fé, abandonou o Senhor: as grandes ideologias, a banalização do homem que não crê em nada mais e se deixa simplesmente levar, construíram um novo paganismo, um paganismo pior [do que o antigo], o qual, querendo definitivamente pôr Deus de lado, acabou por se livrar também do homem. O homem jaz sobre seu próprio pó.

Esse mal que não poupa nenhuma classe social, ambiente ou nação, vem provocando o esvanecimento da sensibilidade moral e faz desaparecer o próprio conceito de pecado, a noção de arrependimento e o valor da dor de consciência.

Em suma, vive-se hoje como se Deus não existisse.

As estatísticas só têm confirmado essa realidade: a porcentagem dos fiéis que frequentam as Missas dominicais e os Sacramentos vem diminuindo em ritmo acelerado.

Diante dessa situação, temos o direito de ficar parados? O que Deus espera de nós?

A exortação final da Apostolicam Actuositatem dá a resposta, convocando-nos para um grande esforço de evangelização:

O sagrado Concílio pede instantemente no Senhor a todos os leigos que respondam com decisão de vontade, ânimo generoso e disponibilidade de coração à voz de Cristo – que nesta hora os convida com maior insistência – e ao impulso do Espírito Santo. Os mais jovens tomem como dirigido a eles, de modo particular, esse chamamento, e recebam-no com alegria e magnanimidade.

A quinta palavra de Jesus em sua agonia no Calvário, “tenho sede!”, era já uma conclamação dirigida a todos os leigos, tornada ainda mais premente em nossa época. O Salvador tem sede de almas, Ele quer a conversão de todos.

O Concílio Vaticano II não fez senão ecoar a voz do Divino Mestre e nos lembrar que, nas atuais circunstâncias, mais do que nunca a Igreja precisa de apóstolos leigos.

As almas de nossos irmãos clamam por nós, muitas delas correndo o risco de perecer se não atendermos a essa convocação.

Sejamos generosos e digamos o nosso “sim!”. E desse modo estaremos pondo em prática este sublime mandamento do Senhor: “Que vos ameis uns aos outros” (Jo 15, 17).