“Como são amáveis as vossas moradas, Senhor!” (Sl 83, 2).

Entre as múltiplas crises pelas quais atravessa o mundo de hoje, uma das mais graves e de consequências mais profundas é a da família. É tão desoladora sua situação que não poucos a imaginam à beira da completa extinção.

Ora, esse desfecho é impossível, pois ela é uma instituição divina, como mostra uma das bênçãos do ritual do Matrimônio:

Ó Deus, Vós unis a mulher ao marido e dais a essa união, estabelecida desde o início, a única bênção que não foi abolida, nem pelo castigo do pecado original, nem pela condenação do dilúvio.

Sobretudo, foi elevada à condição de Sacramento pelo Homem Deus.

Não se pode negar que a santidade e a própria estabilidade da família encontram-se gravemente ameaçadas; e os Papas não cessam de alertar sobre este grande mal: a desagregação familiar.

Economizemos tempo e espaço, deixando de lado outros aspectos do problema, e concentremos nossa atenção nas suas causas.

Essas, aliás, podem se reduzir a uma só: o fato de se querer expulsar Cristo da sociedade. As outras causas são apenas uma inevitável decorrência desta.

Laicismo, materialismo, consumismo, divórcio, uniões ilegítimas, etc., são filhas e netas do retorno à terra daquele brado deicida de outrora: “Crucifica-O, crucifica-O!”

Se as famílias resolverem retomar o princípio de seu caráter sacral e, portanto, cristão, a face da terra será renovada, pois o lar deve ser, antes de tudo, um tabernáculo do Senhor. Essa concepção religiosa nasce da própria essência e natureza do casamento. Nem sequer os pagãos fugiram dessa visualização, tanto que cultuavam dois deuses protetores do lar e lhes ofereciam sacrifícios.

Para os cristãos, a habitação familiar é um templo onde se encontram oração, pregação e sacrifício. A bênção dos alimentos, a ação de graças, a recitação coletiva do rosário e outras práticas de piedade, a Páscoa e o Natal em comum, etc., constituem a oração na Igreja doméstica.

São João Crisóstomo recomendava vivamente aos pais de família, em Constantinopla e Antioquia, a converterem suas casas em verdadeiros templos. Deviam repetir ali o que haviam aprendido na Igreja.

Santo Agostinho ainda ia mais longe, atribuindo-lhes funções episcopais, enquanto responsáveis por transmitir a verdadeira doutrina dentro de casa.

Porém, a mais eficaz pregação é feita através do exemplo. Se o ambiente doméstico é um templo do Senhor, além de oração e pregação, ele exige sacrifício; deve-se nele oferecer uma vítima:

Rogo-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que ofereçais os vossos corpos como uma hóstia viva, santa, agradável a Deus (Rm 12, 1).

Não se pode construir uma nova era com famílias desagregadas. Somente com lares bem constituídos e piedosos teremos uma sociedade robusta e sadia.

Nenhuma outra época precisou tanto de famílias que dêem à sociedade bons cidadãos, autênticas pilastras e muralhas para a salvação e segurança do bom relacionamento humano.

Esse nobre e indispensável objetivo só será alcançado pela restauração dessa célula-mater da civilização, segundo o espírito, a moral e a doutrina da Santa Igreja.