O enorme véu do Templo de Jerusalém — grossa e pesada cortina, tecida de ouro e púrpura — rasgou-se de alto a baixo. A terra tremeu e as pedras se fen­deram. Dos túmulos levantaram-se os justos, e apa­receram a muitas pessoas.

Esses fenômenos se iniciaram perto das 15 horas, logo que o Filho de Deus proferira suas últimas palavras, “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”, e expirara.

Desde o meio-dia, hora em que Jesus fora cruci­fi­cado, reinava uma tremenda escuridão, pois o sol havia se escu­recido.

No interior do Templo, apagou-se de repente a luz do grande candelabro de ouro; a enorme porta de bronze maciço, tão pesada que exigia o esforço somado de vinte homens para abri-la, apareceu entreaberta, sem a intervenção de ninguém; ouviram-se o ruído de passos apressados que se afastavam do Templo e vozes misteriosas a bradar repetidamente: “Saiamos daqui! Saiamos daqui!” Eram os Anjos abandonando um local que perdera seu significado.

No alto do monte Calvário, a multidão havia sido tomada de medo e pavor. Muitos batiam no peito, e apressavam-se em voltar para a cidade.

Os soldados da guarda romana, a começar pelo centurião, observando atemorizados e maravilhados todos aqueles terríveis fenômenos, exclamavam: “Esse homem era verdadeiramente o Filho de Deus!”

Assim, em meio a acontecimentos de ordem sobrenatural e às manifestações pelas quais a própria natureza condenava o terrível crime cometido, pessoas estranhas ao círculo dos discípulos de Jesus reconheciam sua divindade, ao passo que grande número dos que antes olhavam com indiferença, ou quiçá com aprovação, aquelas ini­quidades, compreendiam agora que a crucifixão desencadeara aqueles formidáveis fenômenos.

A agonia de Nosso Senhor Jesus Cristo na cruz durara três horas. Tão pungente foi seu martírio que Ele chegou a clamar em alta voz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”

Frase impressionante, uma das sete que nosso Divino Salvador pronunciou no alto do Calvário.

Tendo sofrido toda a Paixão sem gemidos e quase no completo silênio, Ele, cravado na Cruz, proferiu palavras que compõem o mais sublime poema de todos os tempos.

Expressão do amor de Jesus para conosco e de seu lancinante sofrimento, verdadeiro testamento divino: “Sete Palavras”.

São elas o tema central do presente número de Arautos do Evangelho.