As Escrituras, sempre tão sucintas, encerram maravilhas que só o tempo e o paulatino trabalho da graça nas almas vão revelando. No Evangelho da Anunciação, por exemplo, encontramos o Anjo São Gabriel aquietando a perturbação de Nossa Senhora com as palavras: “encontraste graça diante de Deus” (Lc 1, 30). Ora, o que significa essa expressão?

Encontrar graça diante de Deus é, antes de tudo, ser objeto das complacências do Altíssimo. Mas, como para Ele tudo é presente, da palavra do Anjo devemos concluir ter sido assim desde toda a eternidade: a Santíssima Virgem estava, de fato, inserida no projeto da Encarnação.

Que lugar Lhe coube nesse projeto? O de ser Mãe, isto é, ser aquela escolhida para trazer Deus ao mundo. Foi por Maria que “o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Assemelhava-se desse modo ao sacerdócio da Nova Lei, o qual, pelas palavras da Consagração, traz ao altar Aquele mesmo que, por seu “fiat”, Nossa Senhora concebeu no seu seio virginal. Outra analogia se encontra ainda no fato de o sacerdote ser constituído “como mediador nas coisas que dizem respeito a Deus” (Hb 5, 1), pois a Santíssima Virgem, pelo seu papel de Mãe, obtém para nós tudo quanto pede a Jesus.

A especial predileção de que foi objeto desde a elaboração do plano da criação introduziu Nossa Senhora, portanto, no próprio Coração de Deus, de onde governa maternalmente todo o acontecer humano. Pela sua misericórdia, Ela é também a perfeita manifestação da bondade divina, a máxima expressão de seu Coração para nós. Deste inefável tesouro divino, Ela tem o poder de conceder-nos tudo que Lhe pedimos, tantas vezes sem o merecermos.

A esses vários títulos, entre muitos outros, Nossa Senhora não é apenas Mãe e Filha da Igreja, mas também sua mais perfeita imagem (cf. Lumen gentium, n.63). A Igreja ensina? Maria também, pelo seu exemplo e exercendo seu maternal amparo junto a todos os homens. A Igreja governa? Maria também, à sua maneira, exercendo sua influência nas almas e encaminhando todos para Deus e para o Céu. A Igreja santifica? Maria também, atendendo aos pedidos que Lhe são feitos e concedendo, como Mãe da Divina Graça, os benefícios divinos de que tanto precisam seus filhos.

O Corpo Místico de Cristo encontra, portanto, enquanto “universal sacramento da salvação” (Lumen gentium, n.48), um perfeito reflexo em Maria: se a Igreja é a Esposa de Cristo, Ela o é do Espírito Santo.
Para beneficiar-nos da suprema proteção da Santíssima Virgem, basta aceitarmos o vínculo de amor que Ela deseja ardentemente estabelecer com todos os corações. Criados por Deus para irmos para o Céu, é por meio de Maria que seremos salvos, como ensina São Luís Grignion de Montfort.

Eis a única solução para a crise do mundo: assim como João Batista foi enviado para apontar o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1, 29), não existirão na terra almas chamadas a preparar “um povo bem disposto” (Lc 1, 17) para o reinado de Maria?