Nada no mundo é tão misterioso quanto a Igreja. Nascida do costado sagrado de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. CCE 766), ela constitui um extraordinário e belíssimo mistério da graça, elevado muito acima do universo material. Embora composta por homens, e tendo como objetivo – além da glória de Deus – a salvação deles (cf. CCE 824), a Igreja possui, entretanto, uma origem, uma essência e uma vida toda divina (cf. CCE 813), por ser o Corpo ­Místico de Cristo.

Vivendo em meio às lutas e dificuldades dos homens, ela nunca se deixa manchar pelas ações deles. Esta é a razão pela qual, ao passar por períodos de terríveis crises que poderiam na aparência desfigurá-la para sempre, a Esposa de ­Cristo ressurge rejuvenescida, engalanada com novos títulos de glória. De cada ­chaga reluz uma joia.

Nisto se verifica uma regra da História e do agir de Deus: após uma misteriosa renovação, para cujo processo a Igreja encontra em si toda a vitalidade necessária, sua perfeição se vê fortalecida e enriquecida precisamente naqueles pontos em que mais se procurou desonrá-la.

As Escrituras nos mostram quantas dificuldades houve na religião judaica, pré-figura da Igreja, para manter a fidelidade do povo na adoração do único Deus verdadeiro. Depois da Encarnação, esta luta foi superada com a própria fundação da Igreja que, por sua vez, teve de enfrentar diversas heresias ao longo dos séculos. Entretanto, do combate a cada uma delas a Esposa de Cristo saiu ainda mais robustecida na sua fé e acrisolada na sua doutrina.

Assim, qual será a fisionomia da Igreja no século XXI? Só o futuro o dirá, mas desde já podemos deduzir, de suas atuais tribulações, os aspectos dela que mais reluzirão após seu reerguimento. O que mais a faz sofrer hoje? A indiferença de seus filhos? Então, ela se encontrará marcada pela fidelidade. A indignidade de alguns ministros? Ela brilhará, pois, pela integridade. A ingratidão da humanidade? Será ela, portanto, honrada por todas as nações. A sanha de seus inimigos? Logo, virá um período de vitória como ela jamais conheceu. Abrir-se-ão as nuvens e raiará sobre ela o Sol da Justiça, revelando-a como vencedora, pronta para novos triunfos (cf. Ap 6, 2).

Será ela a Esposa perfeita, a nova Jerusalém, ornada para o Esposo (cf. Ap 21, 2), “toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5, 27). Será toda ela “revestida da glória de Deus” (Ap 21, 11), e suas excelências sobrenaturais poderão se comparar às pedras preciosas e ao ouro puro (cf. Ap 21, 18‑19). Seus ministros serão, verdadeiramente, sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13‑14) e “as nações andarão à sua luz” (Ap 21, 24).

Afinal, aconteça o que acontecer, a Igreja tem a promessa divina de que as portas do inferno não prevalecerão contra ela (cf. Mt 16, 18)!