Na aurora da criação, os Anjos, por um simples ato de vontade de Deus, foram tirados do nada e feitos puros espíritos. Inicia-se assim a obra dos seis dias firmada na inocência.

Os que se revoltaram contra o Autor da vida perderam o estado no qual haviam sido criados e viram-se precipitados no inferno.

A mesma inocência foi conferida aos nossos primeiros pais, no amanhecer do Paraíso Terrestre. Desde os minerais até os homens, passando pela natureza vegetal e pelos animais, todos os seres evocavam esse magnífico selo de Deus, a inocência primeira.

O pecado original, porém, não só tisnou as almas de Adão e Eva, mas lhes fez perder essa fundamental virtude. E suas funestas consequências se abateram sobre a criação inteira, a qual ficou “sujeita à vaidade” e “à corrupção”, e “geme” à espera do dia de sua gloriosa libertação, como diz São Paulo:

Sim, eu tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que se manifestará em nós. Pelo que este mundo espera ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus. De fato, a criação foi sujeita à vaidade, não por seu querer, mas pelo d’Aquele que a sujeitou, com esperança de que também a própria criação será livre de sujeição à corrupção, para participar da liberdade gloriosa dos filhos de Deus. Porque sabemos que todas as criaturas gemem e estão como que com dores de parto até ao presente (Rm 8, 18-22).

No Purgatório, aguardam as almas o momento de se lançar nos oceanos da inocência e obter n’Ela o gozo da felicidade eterna.

Entretanto, o auge do esplendor da inocência desceu sobre a terra ao pronunciarem os lábios de uma Virgem, em Nazaré, o “sim” à embaixada do Arcanjo São Gabriel: “Faça-se em Mim segundo a vossa palavra” (Lc 1, 38). Ela concebeu e deu à luz um Filho, Deus e Homem verdadeiro, a Inocência encarnada.

A História gira em torno dessa virtude e, há alguns séculos, estabeleceu-se um processo na humanidade pelo qual, de forma gradual, foram desaparecendo entre nós as manifestações de inocência.

Aí está a razão de ser da conclamação à santidade, tantas vezes repetida pelo Santo Padre, bem como o elemento essencial para atender aos desejos manifestados por Dom Fernando Legal, de que os leitores de Arautos do Evangelho sejam grandes missionários de uma evangelização permanente, sem exclusão de pessoa alguma (No PDF, pp.16-19).

Aproveitemos este Natal para adorar o Menino Jesus, em companhia de Maria e José, e implorar-Lhe graças especialíssimas para o retorno da inocência ao convívio dos homens, a fim de que assim se encontre a verdadeira paz, tão almejada por todos, mas tão pouco procurada onde realmente se encontra, ou seja, no presépio.